Um mundo sem fim
de Ken Follett
Editorial Presença, 2008
É de facto Um Mundo Sem Fim…
Querem saber porquê? Então, sigam-me!
Chama-se Ken Follet, o escritor inglês responsável por esta deliciosa obra, que desde o seu lançamento, em 2007, já vendeu quatro milhões de exemplares.
Notável, não vos parece?
O êxito desta narrativa reside na simplicidade da trama, vejamos porquê:
Através de um narrador omnisciente e heterodiegético, o leitor pode seguir durante vários anos a vida de quatro crianças.
A acção passa-se numa pequena, mas promissora vila do interior de Inglaterra, o priorado de Kingsbridge , em 1327., plena Idade Média.
Caris, Gwenda e os irmãos Merthin e Ralph deixaram rapidamente a Catedral de Kingsbridge, depois da missa em homenagem ao Dia de Todos os Santos, em direcção à floresta. Mal sabiam que estavam prestes a presenciar um duplo assassinato, sobre o qual decidem fazer um pacto de silêncio. As suas vidas, porém, desde este instante, já estavam ligadas para sempre.
É também na Kingsbridge medieval que floresce a paixão entre Caris Wooler, - filha de um produtor de lã, muito rico - e o corajoso Merthin Builder. Ela, mulher de personalidade marcante e filha do mais eminente mercador da cidade, está decidida a fazer o condado prosperar, não sem antes desafiar várias convenções sociais. Merthin, por sua vez, consagra-se como construtor de talento, mas sonha com o dia em que Caris ficará para sempre a seu lado.
O irmão mais novo de Merthin, o ambicioso Ralph cresce obstinado a fazer parte da nobreza, ainda que para isso tenha de mostrar a sua face mais cruel e implacável. Quando o seu pai, Sir Gerald, perde as terras, o prior Anthony e o conde Roland, chefe maior da região, determinam que Ralph, o filho mais alto e forte de Sir Gerald, seja aprendiz de cavaleiro, enquanto o menor, Merthin, apesar de mais velho, seja carpinteiro.
Gwenda, cheia de privações impostas pelo destino, luta para mudar a sua vida simplória e triste, condenada até a períodos de fome. As dificuldades constantes da sua família, levam o seu irmão, Philemon, a buscar abrigo no Priorado. Para concretizar o sonho de ser monge, não olha a meios para atingir os seus fins, neste caso, conquistar a confiança de Godwyn, médico formado em Oxford, primo de Caris. Assim como Philemon, Godwyn tinha grandes planos – sonhava em ser o prior de Kingsbridge.E consegue!
Numa atmosfera de conspirações, costumes rígidos e jogos de poder, as vidas destas personagens vão-se entrelaçando em encontros e desencontros, gerando do amor mais puro ao ódio mais visceral. Numa terra onde a lei é determinada pela Igreja, que interfere em todas as actividades, tudo é supervisionado pelo padre prior, numa terra medieval, povoada por reis e cavaleiros, servos e senhores, mas onde todos precisam de sobreviver ao passado, às intrigas e a um terrível inimigo comum: a Peste Negra. As autoridades de Kingsbridge não têm dúvidas de que se trata de um castigo dos céus para purgar os pecados da comunidade.
Mais uma vez, a vida nunca mais seria como antes, e todos o sabiam.
Este surpreendente enredo é acompanhado por minuciosas descrições de um tempo histórico demasiado longínquo para nós, leitores do século XXI. Através desta obra, ficamos a compreender melhor uma Inglaterra mergulhada num tempo conturbado por jogos de poder, muita violência e ambição, e assolada pela maior tragédia do século XIV – a Peste Negra
Outra questão curiosa, prende-se com a caracterização das personagens. É muito interessante verificar que a determinação, a coragem, a ousadia e a genialidade são características transversais a todas as personagens, sendo, contudo, usadas para o bem ou para o mal, de acordo com os fins que pretendem atingir.
Mas a minha personagem de eleição é Caris. Passo a explicar porquê:
Caris é desde a infância uma mulher determinada e questiona os valores impostos por uma sociedade machista, onde a mulher não passa de um simples ser sem cérebro, nem vontade própria. Ora Caris, tenta quebrar estas leis. Primeiro afirma que pretende ser médica, quando sabe, que isso é impossível. Mais tarde, quando descobre o amor, põe em causa o casamento, porquanto não tem espírito de servilismo, recusando-se ser criada e propriedade de um homem. Em plena Idade Média, Caris desafia os poderes instituídos. Engravida durante o namoro e, pressentindo uma vida de escravidão, resolve abortar. Com a sua rara inteligência, conseguiu fazer vingar o seu amor, explicando ao seu amado, a diferença entre o amor desinteressado e vivido em liberdade e o “amor-contrato”, aquele que serve interesses, que é mais tarde destruído por valores, outros, que matam o amor verdadeiro. Foi igualmente o seu lado inquiridor que a colocou várias vezes em conflito com a Igreja, questionando as suas regras e atitudes, valendo-lhe, mais tarde, uma acusação de heresia por parte do priorado. Para não ser condenada à morte, aceitou a proposta do bispo: entrou num convento e tornou-se freira. Mas este facto não a impediu de pugnar pelos seus valores.
Ora temos que considerar que estamos perante uma personagem ímpar, que apresenta uma visão demasiado vanguardista para aquele tempo e obriga-nos a pensar que em todas as épocas existiram seres capazes de questionar a ordem do mundo e as leis que são impostas por um grupo de pessoas, sempre minoritário, contudo poderoso.
Gostava, ainda, de me referir à forma. Este romance histórico (porque também retrata uma época) e realista serve-se de uma linguagem simples, mas incisiva, polvilhada com figuras retóricas variadas, dignas de estudo. O vocabulário não é do mais rebuscado, mas é cuidado. A variedade dos temas é tratada sem tabus, com sensibilidade e inteligência refinadas A tradução contém poucas gralhas. Graças à vitalidade da narrativa, a leitura fluí ávida e descontraidamente, sem vontade de fazer pausas.
Por tudo isto, e muito mais, que cabe a cada um de vós descobrir, aconselho vivamente a leitura desta obra, porque, tal como comecei, terminarei dizendo que estamos, de facto, perante Um Mundo Sem Fim …
Querem saber porquê? Então, sigam-me!
Chama-se Ken Follet, o escritor inglês responsável por esta deliciosa obra, que desde o seu lançamento, em 2007, já vendeu quatro milhões de exemplares.
Notável, não vos parece?
O êxito desta narrativa reside na simplicidade da trama, vejamos porquê:
Através de um narrador omnisciente e heterodiegético, o leitor pode seguir durante vários anos a vida de quatro crianças.
A acção passa-se numa pequena, mas promissora vila do interior de Inglaterra, o priorado de Kingsbridge , em 1327., plena Idade Média.
Caris, Gwenda e os irmãos Merthin e Ralph deixaram rapidamente a Catedral de Kingsbridge, depois da missa em homenagem ao Dia de Todos os Santos, em direcção à floresta. Mal sabiam que estavam prestes a presenciar um duplo assassinato, sobre o qual decidem fazer um pacto de silêncio. As suas vidas, porém, desde este instante, já estavam ligadas para sempre.
É também na Kingsbridge medieval que floresce a paixão entre Caris Wooler, - filha de um produtor de lã, muito rico - e o corajoso Merthin Builder. Ela, mulher de personalidade marcante e filha do mais eminente mercador da cidade, está decidida a fazer o condado prosperar, não sem antes desafiar várias convenções sociais. Merthin, por sua vez, consagra-se como construtor de talento, mas sonha com o dia em que Caris ficará para sempre a seu lado.
O irmão mais novo de Merthin, o ambicioso Ralph cresce obstinado a fazer parte da nobreza, ainda que para isso tenha de mostrar a sua face mais cruel e implacável. Quando o seu pai, Sir Gerald, perde as terras, o prior Anthony e o conde Roland, chefe maior da região, determinam que Ralph, o filho mais alto e forte de Sir Gerald, seja aprendiz de cavaleiro, enquanto o menor, Merthin, apesar de mais velho, seja carpinteiro.
Gwenda, cheia de privações impostas pelo destino, luta para mudar a sua vida simplória e triste, condenada até a períodos de fome. As dificuldades constantes da sua família, levam o seu irmão, Philemon, a buscar abrigo no Priorado. Para concretizar o sonho de ser monge, não olha a meios para atingir os seus fins, neste caso, conquistar a confiança de Godwyn, médico formado em Oxford, primo de Caris. Assim como Philemon, Godwyn tinha grandes planos – sonhava em ser o prior de Kingsbridge.E consegue!
Numa atmosfera de conspirações, costumes rígidos e jogos de poder, as vidas destas personagens vão-se entrelaçando em encontros e desencontros, gerando do amor mais puro ao ódio mais visceral. Numa terra onde a lei é determinada pela Igreja, que interfere em todas as actividades, tudo é supervisionado pelo padre prior, numa terra medieval, povoada por reis e cavaleiros, servos e senhores, mas onde todos precisam de sobreviver ao passado, às intrigas e a um terrível inimigo comum: a Peste Negra. As autoridades de Kingsbridge não têm dúvidas de que se trata de um castigo dos céus para purgar os pecados da comunidade.
Mais uma vez, a vida nunca mais seria como antes, e todos o sabiam.
Este surpreendente enredo é acompanhado por minuciosas descrições de um tempo histórico demasiado longínquo para nós, leitores do século XXI. Através desta obra, ficamos a compreender melhor uma Inglaterra mergulhada num tempo conturbado por jogos de poder, muita violência e ambição, e assolada pela maior tragédia do século XIV – a Peste Negra
Outra questão curiosa, prende-se com a caracterização das personagens. É muito interessante verificar que a determinação, a coragem, a ousadia e a genialidade são características transversais a todas as personagens, sendo, contudo, usadas para o bem ou para o mal, de acordo com os fins que pretendem atingir.
Mas a minha personagem de eleição é Caris. Passo a explicar porquê:
Caris é desde a infância uma mulher determinada e questiona os valores impostos por uma sociedade machista, onde a mulher não passa de um simples ser sem cérebro, nem vontade própria. Ora Caris, tenta quebrar estas leis. Primeiro afirma que pretende ser médica, quando sabe, que isso é impossível. Mais tarde, quando descobre o amor, põe em causa o casamento, porquanto não tem espírito de servilismo, recusando-se ser criada e propriedade de um homem. Em plena Idade Média, Caris desafia os poderes instituídos. Engravida durante o namoro e, pressentindo uma vida de escravidão, resolve abortar. Com a sua rara inteligência, conseguiu fazer vingar o seu amor, explicando ao seu amado, a diferença entre o amor desinteressado e vivido em liberdade e o “amor-contrato”, aquele que serve interesses, que é mais tarde destruído por valores, outros, que matam o amor verdadeiro. Foi igualmente o seu lado inquiridor que a colocou várias vezes em conflito com a Igreja, questionando as suas regras e atitudes, valendo-lhe, mais tarde, uma acusação de heresia por parte do priorado. Para não ser condenada à morte, aceitou a proposta do bispo: entrou num convento e tornou-se freira. Mas este facto não a impediu de pugnar pelos seus valores.
Ora temos que considerar que estamos perante uma personagem ímpar, que apresenta uma visão demasiado vanguardista para aquele tempo e obriga-nos a pensar que em todas as épocas existiram seres capazes de questionar a ordem do mundo e as leis que são impostas por um grupo de pessoas, sempre minoritário, contudo poderoso.
Gostava, ainda, de me referir à forma. Este romance histórico (porque também retrata uma época) e realista serve-se de uma linguagem simples, mas incisiva, polvilhada com figuras retóricas variadas, dignas de estudo. O vocabulário não é do mais rebuscado, mas é cuidado. A variedade dos temas é tratada sem tabus, com sensibilidade e inteligência refinadas A tradução contém poucas gralhas. Graças à vitalidade da narrativa, a leitura fluí ávida e descontraidamente, sem vontade de fazer pausas.
Por tudo isto, e muito mais, que cabe a cada um de vós descobrir, aconselho vivamente a leitura desta obra, porque, tal como comecei, terminarei dizendo que estamos, de facto, perante Um Mundo Sem Fim …
Um abraço e boas leituras.
Margarida Rodrigues
(Prof. 3ºCiclo Português/Francês – EB 2,3 de Arganil)
Margarida Rodrigues
(Prof. 3ºCiclo Português/Francês – EB 2,3 de Arganil)
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